Sinta-se Mormaii
Publicado em 04/04/2016

A inspiração de Carlos Carpinelli

Carlos Carpinelli, surfista e diretor de criação da Mormaii, foi entrevistado por Rômulo Quadra no site da Revista Surfar contando detalhes da sua história e estilo de vida. O resultado foi uma matéria inspiradora.

Como você definiria a sua arte?

O sonho dos surfistas. O mar de gala nos picos que a gente ama, a cena que todos nós gostaríamos de ver quando chegamos para o surf… Enfim, uma coisa boa, algo que nos inspire a continuar na busca infinita pelo mar da vida, que possa ir além de vender ou conquistar algo, mas sim deixar e sentir algo de bom. Passar um momento de felicidade para quem vê minha arte, mostrando até de forma purista as coisas e momentos que vivi ou gostaria de ter vivido, visto ou imaginado. No meio de tanta tristeza e crueldade, um respiro de pureza, beleza e uma sensação de paz. É como eu contribuo com o mundo e como digo para as pessoas “Aloha”!

Quais são as suas principais influências no meio artístico?

Christian Lassen (artista que mora no Hawaii) foi o cara que me inspirou quando eu era criança. Ele é incrível! As cores e as pinceladas são perfeitas… Não vi nada igual até hoje. Mas têm vários que eu poderia citar, desde os mais renomeados como Cézanne, Paul Gauguin, Van Gogh, Moebius e Gustavo Doré. Além de alguns amigos, como Gustavo Rolim, Tom Veiga, Duka Machado e Fukuda, que também me inspiram, tanto na forma como pintar ou na postura de investir em sua carreira como artista e em seus sonhos. São artistas incríveis, cada um com suas qualidades e também sequelas típicas de artista (risos).

Você é autodidata ou fez algum tipo de especialização de pintura?

Jamais tive aula de pintura, mas já trabalhei com alguns ótimos artistas. Muito do que faço hoje traz o que vivenciei com eles, principalmente o período em que fazia cenários para comerciais, na época em que ainda era muito cara a computação gráfica. Os painéis de fundo de vídeo clips de bandas, como Capital Inicial ou de shows como o de Roberto Carlos, eram todos pintados à mão, hiperrealismo feito com rolo de tinta e pincel, uma fase de grande importância na minha formação como pintor, pois tínhamos obras grandes e um tempo super reduzido para terminá-las.

Quantos quadros você já pintou e qual foi o mais especial?

Não sei exatamente quantos quadros já pintei, cerca de 200 ou mais, muitos se perderam sem registro. Acho que o mais importante é sempre o último, pois o que mais me interessa é todo o processo de aprendizado que acontece durante o caminho e as soluções que encontro para cada imagem que quero representar. Agora, por exemplo, estou fazendo um registro do litoral de Santa Catarina de um ângulo totalmente diferente, o que me faz ter que achar uma forma nova de pintar. Isso é o que mais me interessa, pois embora os quadros pareçam iguais quanto à técnica, sempre tenho que usar um pincel de forma diferente e, muitas vezes, eu até esqueço como foi que fiz em um quadro anterior e tenho que recriar o caminho para fazer a superfície da água ou outro detalhe qualquer.

Viajar bastante aprimorou mais a sua arte?

Já pintava ondas antes de viajar, mas depois que conheci picos como Pipeline, ScarReef, Lobitos, Galapagos ou Papua Nova Guine, entendi que são possíveis combinações de ondulação, marés e bancadas que jamais poderia ter imaginado. Misturas que parecem impossíveis simplesmente acontecem naturalmente. Ondas quebrando com coqueiros de fundo, como em Nias. Ou outras que têm a base abaixo do nível da superfície do mar, como Teahupoo. Ou ainda as que beiram a praia durante 300 metros sem fechar, como Desert Point. E outras tão quadradas na maré seca, como Cacimba do Padre, apreendendo um pouco de como a natureza pode parecer surreal, muito além do que a razão pode supor.

Como profissional e artista realizado, que mensagem você deixa para as futuras gerações?

A realização está em colocar em prática o que a gente tem prazer, pode ser pintando, desenhando, esculpindo, fotografando ou qualquer outra forma de expressão. Sem tesão, não rola. Daí, se rolar reconhecimento ou não, já valeu a pena. Como o amor, tem que ser incondicional, assim sai mais genuíno, sem uma cara de comercial ou do que está na moda. A dedicação não deve ser baseada na grana, que vem como recompensa. Ganhar dinheiro é bom, mas se entrar nessa pela grana provavelmente vai rolar uma frustração. O dinheiro vem como bônus, isso se a obra for realmente bacana. Se quiser entrar nessa para ganhar dinheiro, então é melhor ser advogado ou outra coisa qualquer.