Sinta-se Mormaii
Publicado em 04/04/2016

Blog do Lawrence | Os amigos da onça

Eu fiquei conhecido do público como mergulhador, mas minha paixão pela natureza vai além das águas.

Sou documentarista de animais – tanto embaixo da água como fora dela – e desde muito jovem exploro o Pantanal, um dos meus locais favoritos.

Uma das sensações mais eletrizantes do meu trabalho é observar de perto grandes predadores em seu habitat e o maior predador das Américas é a onça-pintada.

Os “causos” de onça povoam o imaginário do homem pantaneiro, mas por muitos e muitos anos, ver uma delas em liberdade era privilégio de gente muito, muito sortuda.

Em 1999 tive essa sorte. Por acaso estava indo mergulhar no Rio Touro Morto no Mato Grosso do Sul quando deparamos com uma onça matando um jacaré.

A imagem que filmamos rodou o mundo, vendemos para mais de 10 canais de TV!

Naquela época, onças eram consideradas grandes inimigas por atacarem gado e sinônimo de prejuízo.

Fazendeiros as matavam ou mandavam matar (infelizmente isso ainda acontece em muitos lugares, inclusive em partes do Pantanal).

O advento do ecoturismo foi mudando essa mentalidade, até que foi “descoberto” um cantinho especial do Pantanal: O Porto Jofre, “casa das onças”.

Nessa região fica o Parque Estadual Encontro das Águas, onde a abundância de presas (jacarés e capivaras) e o fato de pescadores visitarem os rios da região a décadas, fizeram com que muitas onças se concentrassem no local e aos poucos se acostumassem a presença de barcos.

Hoje, as enormes chances (mais de 90%, num pacote de 3 dias) de avistar onças atraem centenas de turistas do mundo todo para a região.

Desde que a visitei pela primeira vez, em 2009, já retornei 14 vezes. Nesse ano estive lá duas vezes, levando um grupo de turistas em julho e filmando para a TV francesa em agosto. Em duas semanas tive 22 avistamentos de 12 onças diferentes.

Esses magníficos predadores, odiados no passado, são hoje fonte de renda. O dinheiro dos turistas criou uma cadeia econômica.

Os hotéis, pousadas e barcos-hotel empregam, diretamente, guias, barqueiros, motoristas, garçons, cozinheiros, camareiras, mecânicos…

Sem falar nos empregos indiretos que vão de companhias áreas a agricultores que plantam a comida consumida pelos turistas.

As onças viraram sinônimo de lucro! Um exemplo para todo o Brasil: A natureza preservada trazendo recursos para região que a preserva. Tomara que um dia todo nosso Brasil aprenda a ser assim.