Lawrence Wahba estreia “Todas as Manhãs do Mundo”, no NatGeo
Cada manhã é o início de um novo ciclo. Na natureza, o nascer do sol marca a “troca de turno” entre os animais de hábitos noturnos, que se recolhem, com aqueles que se aventuram na luta por água e comida durante o dia.
A captura dos momentos em que a escuridão dá lugar aos primeiros raios de luz, que tingem o horizonte com suas cores tênues que gradualmente vão ganhando intensidade – passando por tons dourados – até que o sol potencialize as cores do dia; são de uma poesia pouco apreciada e que cujo registro impõe dificuldades técnicas “quase intransponíveis”.
Ao longo de 42 semanas de gravação uma equipe de 13 cinegrafistas brasileiros e franceses se dedicou ao desafio de registrar o amanhecer da vida animal em alguns dos santuários naturais mais remotos do planeta. O resultado desta odisseia chega ao público em “Todas as Manhãs do Mundo”, produção inédita a ser exibida no Brasil e na América Latina pelo canal NatGeo.
Obra composta por cinco documentários de 44 minutos com direção e narração de Wahba, a série chega à telinha cheia de expectativas, principalmente por se tratar de uma parceria com a Bonne Pioche, produtora francesa que venceu o Oscar em 2006 com o documentário “A Marcha dos Pinguins”.
Com idéia original da bióloga e roteirista franco-alemã Judith Hausling, “Todas As Manhãs do Mundo” se diferencia das demais produções do gênero pela linguagem cinematográfica.
“Registrar flagrantes da vida animal exigem esforços, mas registrar esses flagrantes dentro de uma proposta estética rebuscada, brincando com enquadramento, iluminação, contra-luz, desfoque… é uma missão hercúlea, mas o resultado traduz em imagens a emoção que sentimos nesses amanheceres”, diz Lawrence – um dos ganhadores do Emmy Awards 2013 pelo programa “América Selvagem”.
As filmagens ocorreram entre outubro de 2013 e fevereiro de 2015 em locais inóspitos e contrastantes, como a Amazônia Brasileira, a Savana Zambiana, o Ártico Norueguês, o Deserto da Baja Califórnia e a Floresta Temperada do Canadá, além, claro, do fundo do mar, onde Wahba registrou o amanhecer em seu local favorito: debaixo da água.
Cada episódio teve cerca de 8 semanas de filmagens e 3 meses de pós-produção.
Foram utilizadas câmeras de cinema com altíssima sensibilidade para condição de pouca luz e tecnologia de ponta, como lentes teleobjetivas de 800mm, drones, gruas, sliders, estabilizadores de imagem, micro-câmeras, lentes-macro, entre outros.
A série conta com trilha sonora exclusiva assinada pelo maestro, compositor e arranjador Fabio Cardia, com participação da cantora Graça Cunha.
O cronograma de filmagens foi feito sob medida, de acordo com cada fenômeno natural que a equipe pretendia registrar.
Mas, como se sabe, a natureza tem seu próprio tempo: para captar a desova das tartarugas gigantes na Amazônia em Setembro de 2014, Lawrence teve de prolongar por mais duas semanas seu trabalho na região.
Contudo, a “Mãe Terra” também pode ser muito generosa, durante as filmagens, Wahba viveu uma experiência única na Baja Califórnia, México.
Ele filmou as mundialmente famosas “baleias amigáveis”, mães e filhotes de baleia-cinzentas que ocasionalmente se deixam acariciar por humanos, fenômeno estudado por cientistas desde 1976.
“Primeiro, a mãe te olha como se estivesse te analisando. Depois ela e o filhote se aproximam do barco e se deixam tocar. Quando a fêmea percebe que o filhote está um pouco tímido, ela mesma o empurra em direção ao barco. Essa experiência emocionou todos que estavam na embarcação”, diz o documentarista, que estava acompanhado por Marcelo Skaf, oceanógrafo que foi diretor do Parque Marinho de Abrolhos, no litoral sul da Bahia.
Cada documentário, que começa com Lawrence cumprimentando a audiência no idioma de onde as imagens foram gravadas, traz cenas de animais carismáticos e comportamentos impactantes: A luta entre crocodilos e hipopótamos; o “café-da-manhã” de uma família de leões; os gritos matinais dos bugios-de-mãos-ruivas – espécie de macaco da região amazônica ameaçada de extinção; os ninhos dos temidos jacarés-açus; os ariscos coiotes da península e os tubarões e raias gigantes dos mares da Baja Califórnia; a jornada do salmão e os encontros cara-a-cara com ursos-cinzentos e ursos-negros; o desconhecido glutão, que em inglês é chamado de wolverine (o nome do super-herói é inspirado no mamífero, que tem garras muito grandes) e os gigantes das terras geladas: ursos polares e morsas.
Narrada em primeira pessoa de maneira informal e bem humorada, a série também retrata os desafios e perigos enfrentados por Wahba e sua equipe enquanto se aventuravam para filmar os amanheceres do planeta.
Passar horas numa precária plataforma de madeira no topo das arvores; capotar de trenó no Ártico Norueguês onde o sol não se pôs durante 18 dias de filmagens; ser picado pelas famigeradas moscas tsé-tsé, entre outras, foram algumas das dificuldades enfrentadas pela equipe.
Num destes momentos de tensão, Lawrence e o biólogo Robinson Brotero Arias, especialista em jacarés-açu do Instituto Mamiraúa, se dão conta que se aproximaram demais de uma fêmea que quase os ataca para proteger seus filhotes.
“Todas as Manhãs do Mundo” é um registro que prembula entre os limites da ciência e da arte, configurando-se como umproduto cinematográfico de entretenimento, com pitadas de aventura e bom humor, retratados com um cuidado estético e um rigor cientifico digno das maiores produções do gênero. Mas com a diferença de ser uma série brasileira!
Saiba mais sobre essa produção espetacular da Canal Azul Films no Face e Instagram de “Todas as Manhãs do Mundo”
[Fotos: Tatiana Lohmann]
[Fotos Aquáticas: Marcelo Skaf]